2008-11-24

passageiro educado(r)

depois de receber o troco, o passageiro despediu-se do motorista com "bom dia". o motorista não respondeu nada. o passageiro insistiu "bom dia" e o motorista continuou calad0. houve ainda um terceiro "bom dia sem resposta até que, ao quarto, ele sai do carro, abre o porta bagagem, saca de uma chave de fendas e, através do vidro, ameaça o passageiro "veja lá se quer que eu lhe abra a cabeça!"

2008-09-03

descobrimento d'1 rectapronúncia

- bom dia, era para o monumento aos descobrimentos, se faz favor.
- em belém não é?
- exactamente.
- então não é dos "descobrimentos" é das "descobertas".
- ou isso...
- e também não é "monumento" é "padrão".
- talvez...
- o nome certo do sítio para onde a senhora quer ir é "padrão das descobertas"!

2008-07-04

(anti) divino sospiro


- está cansado ... dum dia de trabalho neste calor?
- não. este é o primeiro serviço que faço hoje. estou é muito preocupado com o meu gatinho.

2008-06-30

viva o MFA!

- sempre fizeram alguma coisa. então e as pensões? antes do 25 de abril havia muita gente que não tinha qualquer pensão de reforma...
- não fizeram nada, isso já havia...
- mas não era geral. então e o serviço nacional de saúde que foi uma coisa tão importante..
- isso não foram eles que fizeram, isso foram os soldados!
- ah mas como os soldados em boa hora entraram na política passaram a ser políticos. foram soldados-políticos...
- sim está bem, nesse aspecto... mas depois quando entregaram isto aos políticos verdadeiros veja no que deu, tem sido assim nada, não têm feito nada por nós há quase quantenta anos. é só eles a encherem-se, a eles e às famílias deles.

2008-06-08

prática masculina

- é que as mulheres são muito mais agressivas a guiar do que os homens...
- ai acha isso? eu por acaso tenho uma opinião contrária. mas se calhar não se pode é generalizar ...
- eu não digo que elas não guiem bem. a mulher até é um bom volante - é justo que se diga. agora, são é mais agressivas que os homens. se elas acham que têm prioridade avançam... e prtestam, zangam-se. há-de ver nas passadeiras, as mulheres nunca páram bas passadeiras. tem que ver com a natureza delas. sabe o que é, a mulher é muito teórica...

2008-06-05

grémio, stop

- é para a rua da arrábida se faz favor.
- isso fica...
- é uma rua estreitinha que desce da silva carvalho para o rato.
- oh eu queria era ir para o outro lado, para perto do aeroporto...
- então mas se quiser eu saio e tomo outro táxi... estão aqui tantos na praça.
- não, nós não podemos recusar clientes.
- está bem não é o senhor que me recusa sou eu que vou noutro.
mas ele não me deixou sair e a viagem começou.
distraída pela incessante conversa sobre o azar que só ele, entre os colegas, tinha sempre pousada em cima da cabeça - se queria ir para leste aparecia um cliente que ia ir para oeste, só lhe apareciam serviços pequenos, ou para sítios onde não havia ninguém pelo que tinha de voltar vazio ("que faziam o cabrazão do patrão, que levava o dia a dormir sem fazer nada, a acusá-lo de fazer quilómetros a mais), nunca lhe aparecia ninguém com mala para o aeroporto ("os 1,60 da mala são para mim e não para o patrão") - não reparei que na praça de espanha tínhamos virado à direita, e não à esquerda, como é costume, nem que, na auto-estrada, não tínhamos virado à direita e descido para campolide, outro itenerário possível.
ao dar por mim a rolar em grande velocidade na av. de ceuta, interrompi-o:
- mas para onde é que o sr. está a ir?
- deixe estar que vai bem, subimos ali onde era o casal ventoso e estamos lá num instante. mesmo quando venho buscar o meu sobrinho, que vive na rua maria pia, venho sempre por aqui - não tem transito nem sinais e é sempre a direito. não está a ver o caminho que eu digo?
- não, não estou.
quando depois de uma subida íngreme e cheia de curvas aportámos finalmente à rua maria pia, o taxímetro marcava 6,70 e ainda faltava muito caminho para andar.
- o sr. não queria vir para este lado e resolveu compensar-se dando esta volta enorme...
- a senhora não pense isso de mim, eu juro pela saúde dos meus filhos.
- não penso nada, só sei é que faço este caminho duas vezes por semana, a esta hora, e nunca pago mais de 5 euros e muito pouco... tinha feito melhor em ter-me deixado trocar de táxi...
primeiro foram os protestos indignados mas moderados - como é que eu havia de pensar tal coisa dele. depois as desculpas esfarrapadas mas educadas - tinha-se enganado como qualquer um se pode enganar. finalmente, e já perante os sinais proibidos na saraiva de carvalho, que nos impediam de virar para a ferreira borges e depois, na ferreira, nos impediam de virar à direira para a rua da arrábida, desligou o taxímetro.
a electricidade no interior do veículo era relativamente elevada quando entrámos na joão V, e talvez por isso ele esqueceu-se de virar à direita apesar de me vir a repetir a necessidade de "apanharmos já a rua dos alunos de apolo". travagem brusca, viragem quase contra um outro carro e em fundo "mas deixe estar que eu levo-a mesmo à porta".
à desfilada pela rua silva carvalho adiante voltou a falhar a rua da arrábida, à esquerda.
- era ali, era ali. mas olhe eu fico mesmo aqui.
- não, não eu levo a senhora mesmo à porta.
em marcha atrás chegámos mesmo à porta. a porta estava fechada. bati durante bastante tempo e ninguém abriu. afinal o azar era generalizado, o motorista não estava sozinho no mundo.

para chamar a polícia

motorista novo e despachado, fazia gosto em mostrar-se viajado e informado por oposição a nós portugueses que, por não sairmos daqui, pouca ou nenhuma informação tínhamos sobre o mundo. a área do conhecimento na qual, segundo ele, mais atrasados nos encontramos, é a da segurança. espanta-o particularmente o facto de não termos informação sobre algumas questões básicas.
- por exemplo, "você" sabe qual é o número da polícia?
- o 112?
- não isso é a emergência. se "você" estiver aflita, durante um assalto e quiser ligar para a polícia basta escrever polícia no telemóvel e fica logo em contacto com eles.
- a sério?
- claro, as pessoas é que não sabem.
na ânsia de me transmitir mais informação útil, passou por cima da minha pergunta "mas onde e como é que o senhor aprendeu tal coisa?", para voltar a testar a minha ignorância
- e "você" sabe o que fazer se for apanhada numa máquina multibanco ou se for forçada a ir a uma para levantar dinheiro para o ladrão?
- não faço ideia...
- vê?! e é tão fácil. só que as pessoas não sabem. basta marcar o seu código ao contrário, de trás para a frente. a máquina alerta logo a polícia.
- verdade?
mal me apanhei cá fora, e ainda espantada pelo seu conhecimento, sobretudo se comparado com a minha ignorância, fiz ouvidos moucos aos prudentes e insistentes conselhos filiais para não maçar a polícia e escrevi p-o-l-i-c-i-a no telemóvel, preparada para pedir logo desculpa ao sr. guarda dizendo que me tinha enganado. infelizmente começou por dar sinal de ocupado e depois desligou-se.
convencida de que não tinha conseguido falar com a polícia só porque não tinha posto o acento no i (o meu tm só tem teclaro inglês) dirigi-me entusiasmada para o multibanco da loja de conveniência em frente. aí, contudo, a minha filha impediu-me fisicamente de fazer a segunda experiência da noite com medo que o polícia, ao vir ter connosco, deixasse o colega sozinho na esquadra ou não fosse socorrer uma pessoa em perigo real por força da minha vontade de experimentação.
eram duas da manhã quando cheguei a casa e a primeira coisa que fiz foi ligar para o banco. depois de uma breve introdução fui direita ao assunto. mas, para grande tristeza minha, a resposta foi peremptória: "não minha senhora, nunca ouvi falar nesse sistema, nem em portugal nem em espanha."

para poupar no irs

o motorista era um homem de 44 anos licenciado em gestão. apesar de não ter gostado nada de contabilidade, enquanto estudante, tinha agora, a meias com a mulher, a contabilista da família, um gabinete de contabilidade. aproveitou a viagem (ou fui eu que a aproveitei?) para me ensinar alguns truques legais destinados a poupar no irs. por exemplo, se se comprar lenha, deve-se guardar o recibo pois o valor gasto pode ser descontado na rubrica "energias renováveis". só que, segundo acentuou, "é preciso é ter lareira"!

2008-04-30

o caçador

- a minha vida é sete rios, campolide, aqui esta zona, tudo cá para cima. nunca vou lá para baixo.,,
- mas porquê?
- então há mais táxis. além disso anda-se menos e eu ando sempre dum lado para o outro, comigo é só ruas de combate...
- de combate?
- então é onde posso apanhar um cliente mal largo o outro. ainda na semana passada, numa formação que fiz, me perguntaram se eu era alérgico às praças...
- e é?
- oh minha senhora se eu estivesse lá parado não ganhava para comer. isto só dá se se fizer 10 euros por hora. ora eu faço 25 é só fazer as contas. esses parados nas praças são capazes de esperar lá 1 hora e depois ficam chateados se lhes calha um serviço de 4 euros. não é todos os dias que lhes aparecem serviços para oeiras... mas isso é lá com eles, cada um caça com o que quer, uns é com... como é que diz, gato outros com cão.
- então desculpe lá o tamanho reduzido da minha viagem.
- ora essa, a senhora não tem nada que pedir desculpa, a senhora tem é de ir para onde quer ir e de ir bem. se o motorista não parar, depois de largar um cliente, se continuar a andar aí à caça nas ruas acaba por apanhar logo outro eliente...

2008-04-10

taxi inteligente

- eu cada vez estou mais encantado com este carro. olhe bem para este limpa pára-brisas!
- ?
- então ele percebe quando começa a chover mais e passa a andar mais depressa. veja lá agora...
- pois é, parece fantástico.
- é um carro com uma tecnologia espectacular. eu só o guio há uns dias e ainda o ando a descobrir. ele sabe, por exemplo, que a pessoa que está sentada aqui à frente não pôs o cinto e começa a apitar mal eu arranco.
- se calhar é um carro inteligente - como aqueles edifícios sabe os
- veja agora, veja agora a brasa do limpa pára-brisas!
- !
- e agora se eu o desligar, ou assim, olhe... se eu o puser no mínimo, vai ver. viu? ele já percebeu que está a chover muito e começou a andar mais depressa.

no dia do tornado

na minha experiência de passageira, o tópico mais frequente para início de conversa com o motorista, é o tempo que faz e que, na nossa opinião, poucas vezes é o que devia fazer.
- já viu isto (queria eu dizer chuvadas e ventanias) depois dos últimos dias de verão?
- é isto que faz mal à gente. então para as tendinites é terrível. eu, que já apanhei várias tendinites, uma delas demorou não sei quantos anos a passar, sinto logo. tudo começa com um sinalzinho no peito. eu noto logo na respiração...
- o quê a tendinite?
- não, a mudança de tempo

gonçalos e leonores


- os gonçalos são terríveis, mesmo terríveis...

- é o nome do seu neto?

- é. e as leonores? isso então nem se fala...

não há direito

- então há lá direito que uma pessoa com 50 táxis pague o mesmo imposto que uma pessoa que só tem um?
- então se a pessoa fizer de lucro, essa dos 50 táxis, sei lá, 50 mil contos e outra, que só tem um, 500, pagam ambas o mesmo?
- ai pagam pagam.

leão, políticos e mendigos

- estranho, tão pouco trânsito a esta hora
- isso é aqui... na avenida da liberdade está tudo parado. e a avenida da república também está cheia. a senhora tem sorte... olhe, até os sinais estão abertos... há-de ser do sporting, não?

do mundo do futebol, onde vivia este sr. motorista, que seria sempre um "leão"(mesmo que eles passassem para a terceira divisão"), a conversa deslizou naturalmente para o da política, mundo no qual este leão nunca tinha posto o pé (nem alguma vez havia de pôr) por considerar a política a pior "coisa que tinha sido inventada nos últimos tempos".

- não sei se a política será assim tão má... agora uma coisa recente é que ela não é. .
- mas dantes não havia políticos nem tínhamos partidos.
- tínhamos um...
- mas esse não era partido, era inteiro. e não havia políticos - por isso andávamos bem governados. os políticos é que é o pior que há no mundo. e são todos iguais.
- também não sei se serão assim todos iguais...
- então não são?! já viu algum que tivesse saído do governo para vir para a rua
mendigar? algum que tivesse sido político d que depois viesse cá para fora pedir esmola?
- não, de facto nunca vi.

2008-02-24

leitura

um livro a ler.
a começar
por mim -
que ainda só
tive hipótese
de o folhear
numa livraria

este
livro
tem
um
blog
que
fica
aqui

2008-02-20

comodismo individual

e no entanto assunto não falta: do motorista astrólogo que descobre os signos dos passageiros ouvindo as conversas que eles, alheados da sua presença, descontraidamente mantêm entre si; do motorista teimoso com o qual perdi uma aposta a respeito do melhor (maior rapidez, menor preço) percurso já não sei para onde; e pelo motorista distraído que por se enganar no caminho me deixou onde eu queria ficar e não para onde queria ir; até ao enigmático comentário, "a senhora sabe como é que costumo chamar a isto? é comodismo individual", ouvido numa deserta madrugada da av. da liberdade, ao mais plácido dos motoristas (corpo pesado, voz vagarosa, condução contida), ao encontrar, num sinal vermelho, um carro parado a meio da faixa (o que lhe dificultou o acesso à linha da frente).

viagem de táxi com magritte

eu é que não tenho merecido os taxistas que me vão cabendo em sorte. ora entro com os olhos cheios das cores e formas do nikias, sobretudo da série 'quartos imaginários', em torno da qual o jorge silva melo fez o filme que acabo de ver estarrecida. ora saio com os olhos vazios seja do que for excepto dos farrapos cinzentas que neles flutuam na horizontal ou dos fios pretos que por eles deslizam na vertical.

para a rva (da rva)

outros passageiros "vêem" os taxistas que os conduzem. outros passageiros habitam o espaço e o tempo (isto é, o universo) da viagem comum. outros passageiros merecem os seus taxistas.

esta foto foi tirada daqui onde foi publicada e dedicada a uma MT!

2008-02-04

olhe diga-me uma coisa, os seus bolos são frescos?

mal tinha acabado de perguntar ao motorista se tinha mesmo instalada no taxi uma câmara de filmar, já realizava a estupidez da pergunta:
- que ideia a minha. não me conhecendo de parte nehuma, o que é que o sr. havia de responder? não, claro que é só a fingir, pode roubar-me à vontade que nada fica gravado! desculpe lá a minha estupidez...
- não faz mal. também olhe que filmar ou não filmar um assalto não interessa nada pois não vale cono prova tribunal.
- ora essa!?
- mas é como eu lhe digo. eu aqui há tempos estava na praia a dormir e uma mulher roubou-me a carteira
- mas se estava a dormir como é que viu que era uma mulher?
- espere lá que isso é que é o resto da história...
com o cartão do banco foi à fnac e de uma vez fez compras n valor de 900 euros e noutra de 600
- era uma ladra muito dada à leitura!
- qual leitura, na fnac não se compram só livros. ela conprou foi telemóveis para depois vender. uma mulher com uma filha pequena pela mão! uma desgraçada que vive num bairro cheio de problemas.
- mas como é que o senhor sabe isso tudo?
- oh minha senhora então porque ficou tudo gravado nas câmaras. só que depois, no julgamento, não serviu para nada, só se se for apanhado em flagrante delito. as gravações, dizem eles que não servem de prova. eu ainda cheguei a ir a casa dela mas a miúda disse que a mãe já lá não vivia. também... olhe era uma desgraça.
- o quê tinha medo de perder a cabeça e de lhe dar uma surra?
- não, a desgraça não era minha. ela é que era uma desgraçada. estivesse em casa ou fosse condenada tanto fazia, onde é que ela ira arranjar dinheiro para pagar fosse o que fosse?
- talvez com o lucro da revenda dos telemóveis...
- isso já ela tinha queimado tudo em droga! neste país não há nada a fazer...
- sempre vai havendo, então aqui pelo menos dentro do táxi,
mesmo que o senhor esteja ferrado a dormir, nenhuma "passageira" o pode assaltar sem ficar gravada "em flagrante delito".
- aqui não entram elas. mal vêem o anúncio, no vidro, de que está sob vigilância, já não entram no carro.
- olhe eu só vi já cá dentro... mas há muitos táxis com isto?
- poucos porque sai muito caro, é o gps e mais não sei o quê e mais o serviço à optimus que se faz pagar bem
- desculpe lá deixa-me tirar uma fotografia? é que um tenho um 'bloguezinho' sobre as minhas viagens de táxi e gostava de lá registar esta novidade.
- com certeza que pode. tem é de me escrever o nome e a morada do blog.
escrevi e agradeci o interesse. foi a primeira vez. era um homem novo, educado, simpático e, pareceu-me, particularmente cordato.