2008-04-30

o caçador

- a minha vida é sete rios, campolide, aqui esta zona, tudo cá para cima. nunca vou lá para baixo.,,
- mas porquê?
- então há mais táxis. além disso anda-se menos e eu ando sempre dum lado para o outro, comigo é só ruas de combate...
- de combate?
- então é onde posso apanhar um cliente mal largo o outro. ainda na semana passada, numa formação que fiz, me perguntaram se eu era alérgico às praças...
- e é?
- oh minha senhora se eu estivesse lá parado não ganhava para comer. isto só dá se se fizer 10 euros por hora. ora eu faço 25 é só fazer as contas. esses parados nas praças são capazes de esperar lá 1 hora e depois ficam chateados se lhes calha um serviço de 4 euros. não é todos os dias que lhes aparecem serviços para oeiras... mas isso é lá com eles, cada um caça com o que quer, uns é com... como é que diz, gato outros com cão.
- então desculpe lá o tamanho reduzido da minha viagem.
- ora essa, a senhora não tem nada que pedir desculpa, a senhora tem é de ir para onde quer ir e de ir bem. se o motorista não parar, depois de largar um cliente, se continuar a andar aí à caça nas ruas acaba por apanhar logo outro eliente...

2008-04-10

taxi inteligente

- eu cada vez estou mais encantado com este carro. olhe bem para este limpa pára-brisas!
- ?
- então ele percebe quando começa a chover mais e passa a andar mais depressa. veja lá agora...
- pois é, parece fantástico.
- é um carro com uma tecnologia espectacular. eu só o guio há uns dias e ainda o ando a descobrir. ele sabe, por exemplo, que a pessoa que está sentada aqui à frente não pôs o cinto e começa a apitar mal eu arranco.
- se calhar é um carro inteligente - como aqueles edifícios sabe os
- veja agora, veja agora a brasa do limpa pára-brisas!
- !
- e agora se eu o desligar, ou assim, olhe... se eu o puser no mínimo, vai ver. viu? ele já percebeu que está a chover muito e começou a andar mais depressa.

no dia do tornado

na minha experiência de passageira, o tópico mais frequente para início de conversa com o motorista, é o tempo que faz e que, na nossa opinião, poucas vezes é o que devia fazer.
- já viu isto (queria eu dizer chuvadas e ventanias) depois dos últimos dias de verão?
- é isto que faz mal à gente. então para as tendinites é terrível. eu, que já apanhei várias tendinites, uma delas demorou não sei quantos anos a passar, sinto logo. tudo começa com um sinalzinho no peito. eu noto logo na respiração...
- o quê a tendinite?
- não, a mudança de tempo

gonçalos e leonores


- os gonçalos são terríveis, mesmo terríveis...

- é o nome do seu neto?

- é. e as leonores? isso então nem se fala...

não há direito

- então há lá direito que uma pessoa com 50 táxis pague o mesmo imposto que uma pessoa que só tem um?
- então se a pessoa fizer de lucro, essa dos 50 táxis, sei lá, 50 mil contos e outra, que só tem um, 500, pagam ambas o mesmo?
- ai pagam pagam.

leão, políticos e mendigos

- estranho, tão pouco trânsito a esta hora
- isso é aqui... na avenida da liberdade está tudo parado. e a avenida da república também está cheia. a senhora tem sorte... olhe, até os sinais estão abertos... há-de ser do sporting, não?

do mundo do futebol, onde vivia este sr. motorista, que seria sempre um "leão"(mesmo que eles passassem para a terceira divisão"), a conversa deslizou naturalmente para o da política, mundo no qual este leão nunca tinha posto o pé (nem alguma vez havia de pôr) por considerar a política a pior "coisa que tinha sido inventada nos últimos tempos".

- não sei se a política será assim tão má... agora uma coisa recente é que ela não é. .
- mas dantes não havia políticos nem tínhamos partidos.
- tínhamos um...
- mas esse não era partido, era inteiro. e não havia políticos - por isso andávamos bem governados. os políticos é que é o pior que há no mundo. e são todos iguais.
- também não sei se serão assim todos iguais...
- então não são?! já viu algum que tivesse saído do governo para vir para a rua
mendigar? algum que tivesse sido político d que depois viesse cá para fora pedir esmola?
- não, de facto nunca vi.