2010-09-27

(des)conversa

- ah é rua do terreirinho! não é ferreirinho...
- então foi engano meu, desculpe lá mas era nessa rua, nda mouraria não é que eu estava a pensar.
(...)
- fica no número 17 não é?
- é, é. acho que fica ali adiante... mas eu posso ficar aqui e ir este bocadinho a pé... acho tanta graça a esta zona, é tão internacional, é tão cosmopolita que me lembra londres...
- pois é minha senhora, isto aqui é um verdadeiro jardim zoológico: é que há de tudo, indianos, pretos, chineses, eu sei lá... tudo!

2010-05-06

a carpideira e o papa

- tá a ver aquilo são os tipos da opus dei...
- o quê?
- a velhota a chorar nos funerais...
- mas onde é que viu isso?
- então passámos agora mesmo por ela. foram os da opus dei, lembraram-se desta história dos funerais e dos aquários, para protestar contra o papa.
- a opus dei contra o papa?!
- não é a opus dei, é os da maçonaria... encheram a cidade de cartazes
- ah a maçanoria talvez ... mas mesmo assim. ainda gostava de ver...


seguiu-se prolongada e interessante conversa sobre o avô do sr.motorista, estimado professor primário da região de fátima que, apesar de ser católico, era um republicano que nunca tinha engolido a história do milagre dos pastores...


- lá estão eles outra vez!
- quem?
- os da maçonaria...

2010-02-24

novidade

taxímetro virtual no espellho retrovisor: 
"só há um ou dois em lisboa... de dia é mais difícil de descobrir. mas à noite é uma maravilha. estamos sempre a evoluir afinal isto é para o cliente ver melhor."

2009-11-18

contabilidade

- isso acho difícil...

- a senhora contabilize. basta contabilizar...
- oiça lá, não é possível. eu sei que há milhares de desempregados. ainda outra dia falava nisso com uma filha minha que, como se diz no linguajar televiso, tem um lá em casa... agora que em portugal haja mais desempregados do que pessoas a trabalhar é literalmente impossível...

- desculpe, eu já lhe disse que é só contabilizar... a senhora faz alguma idéia das firmas que já fecharam?! eu, que estou metido no assunto, afianço-lhe que com este governo já há mais gente no desemprego do que a trabalhar!

2009-05-09

baile mandado

o motorista saudou a minha entrada no táxi comentando que não sabia há quanto tempo andava às voltas sem ninguém o mandar parar. ao que eu respondi, ao que parece, um pouco parvamente, se havia alguma coisa de especial naquele dia.
- não...não há nada, o que é que havia de haver? é assim mesmo, uns dias são diferentes dos outros...
- lá isso é verdade.
- nenhum dia é igual ao outro. cada dia é o seu dia. ainda ontem, ou anteontem, não, não, foi no sábado, fiz 173 euros em menos de 12 horas e ainda tive tempo para almoçar com calma e descansar um bocado. nesse dia não havia sítio por onde eu passasse que não me mandassem parar! hoje entrei às 4 e até agora, são quase 6 não é ... e a senhora é a segunda pessoa que me manda parar.
no final da viagem, curta, desejei-lhe que mal pusesse o carro em andamento houvesse logo um braço no ar a "mandá-lo parar".

2009-04-16

proprietário

a única terra que eu tenho é a sepultura da minha mãe, que comprei o mês passado, ainda não há um ano que ela morreu.

2009-03-28

só para nós

- então como é de borla eu não levo nada?
grita o "meu" motorista, a cabeça de fora da janela, ao grupo de jovenzinhos que distribuem panfletos entre os motoristas dos carros parados no sinal vermelho, à entrada da praça de espanha.
recebido o papel, e depois de lhe dar uma olhadela disciplicente, o "meu motorista" passa-mo para trás:
- publicidade enganosa...
- ai acha?!
- se eles até se preparam para deixar os carros particulares que transportam mais de uma pessoa circular nos corredores do bus ... uma coisa que toda a gente sabe que é só para nós e para os autocarros!

2009-03-27

não chove nem deixa (de) chover

- diziam que ia chover mas afinal...
- pois é.. continua a primavera.
- é por isso que eu digo que os entendidos não entendem nada...
- mas olhe que eu acho que agora as previsões "acertam" quase sempre.
- sim eles tanto dizem... chove agora, chove logo, chove amanhã... que um belo dia há de mesmo chover!

2009-03-24

words don't come easily

longo silêncio de parte a parte, quebrado, a meio da tranquila viagem, por alto suspiro seguido de baixo (mas audível) murmúrio:
- é assim...
- desculpe?
- é assim ... e por isso o que é preciso é ter paciência...
- mas paciência para?
- prá vida minha senhora!

2009-03-23

para ouvir


taxista do dia

passageiro outro

Todos temos histórias de táxis. Acho mesmo que devia haver um blog aberto a toda a gente e só para recolher histórias de táxis, uma espécie de etnografia ou reportagem em aberto e em permanência. Mas se as histórias de táxis são quase sempre negativas, ontem aconteceu-me uma de espanto: a corrida custava 6 euros e pouco. Nem eu nem o taxista tínhamos “trocado”. O mais “trocado” que eu tinha era uma nota de 5 euros. O taxista disse que não era preciso pagar, que “deixasse estar”. Insisti para que ficasse pelo menos com a nota de 5. Qual quê. Resposta: “Não se preocupe, um dia encontramo-nos nas voltas da vida e depois paga-me”. do blog do miguel vale de almeida

2009-03-18

tudo a pé... menos os coxos

- então alguma vez eu dantes me sujeitava a vir do campo grande para o hospital de st. maria!?
- dantes?
- pois... ainda agora estava no campo grande.. agora vai tudo a pé... resolvi vir para o santa maria a ver se apanhava um coxo...
- e apanhou uma coxa...
- pois apanhei!

2008-11-24

passageiro educado(r)

depois de receber o troco, o passageiro despediu-se do motorista com "bom dia". o motorista não respondeu nada. o passageiro insistiu "bom dia" e o motorista continuou calad0. houve ainda um terceiro "bom dia sem resposta até que, ao quarto, ele sai do carro, abre o porta bagagem, saca de uma chave de fendas e, através do vidro, ameaça o passageiro "veja lá se quer que eu lhe abra a cabeça!"

2008-09-03

descobrimento d'1 rectapronúncia

- bom dia, era para o monumento aos descobrimentos, se faz favor.
- em belém não é?
- exactamente.
- então não é dos "descobrimentos" é das "descobertas".
- ou isso...
- e também não é "monumento" é "padrão".
- talvez...
- o nome certo do sítio para onde a senhora quer ir é "padrão das descobertas"!

2008-07-04

(anti) divino sospiro


- está cansado ... dum dia de trabalho neste calor?
- não. este é o primeiro serviço que faço hoje. estou é muito preocupado com o meu gatinho.

2008-06-30

viva o MFA!

- sempre fizeram alguma coisa. então e as pensões? antes do 25 de abril havia muita gente que não tinha qualquer pensão de reforma...
- não fizeram nada, isso já havia...
- mas não era geral. então e o serviço nacional de saúde que foi uma coisa tão importante..
- isso não foram eles que fizeram, isso foram os soldados!
- ah mas como os soldados em boa hora entraram na política passaram a ser políticos. foram soldados-políticos...
- sim está bem, nesse aspecto... mas depois quando entregaram isto aos políticos verdadeiros veja no que deu, tem sido assim nada, não têm feito nada por nós há quase quantenta anos. é só eles a encherem-se, a eles e às famílias deles.

2008-06-08

prática masculina

- é que as mulheres são muito mais agressivas a guiar do que os homens...
- ai acha isso? eu por acaso tenho uma opinião contrária. mas se calhar não se pode é generalizar ...
- eu não digo que elas não guiem bem. a mulher até é um bom volante - é justo que se diga. agora, são é mais agressivas que os homens. se elas acham que têm prioridade avançam... e prtestam, zangam-se. há-de ver nas passadeiras, as mulheres nunca páram bas passadeiras. tem que ver com a natureza delas. sabe o que é, a mulher é muito teórica...

2008-06-05

grémio, stop

- é para a rua da arrábida se faz favor.
- isso fica...
- é uma rua estreitinha que desce da silva carvalho para o rato.
- oh eu queria era ir para o outro lado, para perto do aeroporto...
- então mas se quiser eu saio e tomo outro táxi... estão aqui tantos na praça.
- não, nós não podemos recusar clientes.
- está bem não é o senhor que me recusa sou eu que vou noutro.
mas ele não me deixou sair e a viagem começou.
distraída pela incessante conversa sobre o azar que só ele, entre os colegas, tinha sempre pousada em cima da cabeça - se queria ir para leste aparecia um cliente que ia ir para oeste, só lhe apareciam serviços pequenos, ou para sítios onde não havia ninguém pelo que tinha de voltar vazio ("que faziam o cabrazão do patrão, que levava o dia a dormir sem fazer nada, a acusá-lo de fazer quilómetros a mais), nunca lhe aparecia ninguém com mala para o aeroporto ("os 1,60 da mala são para mim e não para o patrão") - não reparei que na praça de espanha tínhamos virado à direita, e não à esquerda, como é costume, nem que, na auto-estrada, não tínhamos virado à direita e descido para campolide, outro itenerário possível.
ao dar por mim a rolar em grande velocidade na av. de ceuta, interrompi-o:
- mas para onde é que o sr. está a ir?
- deixe estar que vai bem, subimos ali onde era o casal ventoso e estamos lá num instante. mesmo quando venho buscar o meu sobrinho, que vive na rua maria pia, venho sempre por aqui - não tem transito nem sinais e é sempre a direito. não está a ver o caminho que eu digo?
- não, não estou.
quando depois de uma subida íngreme e cheia de curvas aportámos finalmente à rua maria pia, o taxímetro marcava 6,70 e ainda faltava muito caminho para andar.
- o sr. não queria vir para este lado e resolveu compensar-se dando esta volta enorme...
- a senhora não pense isso de mim, eu juro pela saúde dos meus filhos.
- não penso nada, só sei é que faço este caminho duas vezes por semana, a esta hora, e nunca pago mais de 5 euros e muito pouco... tinha feito melhor em ter-me deixado trocar de táxi...
primeiro foram os protestos indignados mas moderados - como é que eu havia de pensar tal coisa dele. depois as desculpas esfarrapadas mas educadas - tinha-se enganado como qualquer um se pode enganar. finalmente, e já perante os sinais proibidos na saraiva de carvalho, que nos impediam de virar para a ferreira borges e depois, na ferreira, nos impediam de virar à direira para a rua da arrábida, desligou o taxímetro.
a electricidade no interior do veículo era relativamente elevada quando entrámos na joão V, e talvez por isso ele esqueceu-se de virar à direita apesar de me vir a repetir a necessidade de "apanharmos já a rua dos alunos de apolo". travagem brusca, viragem quase contra um outro carro e em fundo "mas deixe estar que eu levo-a mesmo à porta".
à desfilada pela rua silva carvalho adiante voltou a falhar a rua da arrábida, à esquerda.
- era ali, era ali. mas olhe eu fico mesmo aqui.
- não, não eu levo a senhora mesmo à porta.
em marcha atrás chegámos mesmo à porta. a porta estava fechada. bati durante bastante tempo e ninguém abriu. afinal o azar era generalizado, o motorista não estava sozinho no mundo.

para chamar a polícia

motorista novo e despachado, fazia gosto em mostrar-se viajado e informado por oposição a nós portugueses que, por não sairmos daqui, pouca ou nenhuma informação tínhamos sobre o mundo. a área do conhecimento na qual, segundo ele, mais atrasados nos encontramos, é a da segurança. espanta-o particularmente o facto de não termos informação sobre algumas questões básicas.
- por exemplo, "você" sabe qual é o número da polícia?
- o 112?
- não isso é a emergência. se "você" estiver aflita, durante um assalto e quiser ligar para a polícia basta escrever polícia no telemóvel e fica logo em contacto com eles.
- a sério?
- claro, as pessoas é que não sabem.
na ânsia de me transmitir mais informação útil, passou por cima da minha pergunta "mas onde e como é que o senhor aprendeu tal coisa?", para voltar a testar a minha ignorância
- e "você" sabe o que fazer se for apanhada numa máquina multibanco ou se for forçada a ir a uma para levantar dinheiro para o ladrão?
- não faço ideia...
- vê?! e é tão fácil. só que as pessoas não sabem. basta marcar o seu código ao contrário, de trás para a frente. a máquina alerta logo a polícia.
- verdade?
mal me apanhei cá fora, e ainda espantada pelo seu conhecimento, sobretudo se comparado com a minha ignorância, fiz ouvidos moucos aos prudentes e insistentes conselhos filiais para não maçar a polícia e escrevi p-o-l-i-c-i-a no telemóvel, preparada para pedir logo desculpa ao sr. guarda dizendo que me tinha enganado. infelizmente começou por dar sinal de ocupado e depois desligou-se.
convencida de que não tinha conseguido falar com a polícia só porque não tinha posto o acento no i (o meu tm só tem teclaro inglês) dirigi-me entusiasmada para o multibanco da loja de conveniência em frente. aí, contudo, a minha filha impediu-me fisicamente de fazer a segunda experiência da noite com medo que o polícia, ao vir ter connosco, deixasse o colega sozinho na esquadra ou não fosse socorrer uma pessoa em perigo real por força da minha vontade de experimentação.
eram duas da manhã quando cheguei a casa e a primeira coisa que fiz foi ligar para o banco. depois de uma breve introdução fui direita ao assunto. mas, para grande tristeza minha, a resposta foi peremptória: "não minha senhora, nunca ouvi falar nesse sistema, nem em portugal nem em espanha."

para poupar no irs

o motorista era um homem de 44 anos licenciado em gestão. apesar de não ter gostado nada de contabilidade, enquanto estudante, tinha agora, a meias com a mulher, a contabilista da família, um gabinete de contabilidade. aproveitou a viagem (ou fui eu que a aproveitei?) para me ensinar alguns truques legais destinados a poupar no irs. por exemplo, se se comprar lenha, deve-se guardar o recibo pois o valor gasto pode ser descontado na rubrica "energias renováveis". só que, segundo acentuou, "é preciso é ter lareira"!

2008-04-30

o caçador

- a minha vida é sete rios, campolide, aqui esta zona, tudo cá para cima. nunca vou lá para baixo.,,
- mas porquê?
- então há mais táxis. além disso anda-se menos e eu ando sempre dum lado para o outro, comigo é só ruas de combate...
- de combate?
- então é onde posso apanhar um cliente mal largo o outro. ainda na semana passada, numa formação que fiz, me perguntaram se eu era alérgico às praças...
- e é?
- oh minha senhora se eu estivesse lá parado não ganhava para comer. isto só dá se se fizer 10 euros por hora. ora eu faço 25 é só fazer as contas. esses parados nas praças são capazes de esperar lá 1 hora e depois ficam chateados se lhes calha um serviço de 4 euros. não é todos os dias que lhes aparecem serviços para oeiras... mas isso é lá com eles, cada um caça com o que quer, uns é com... como é que diz, gato outros com cão.
- então desculpe lá o tamanho reduzido da minha viagem.
- ora essa, a senhora não tem nada que pedir desculpa, a senhora tem é de ir para onde quer ir e de ir bem. se o motorista não parar, depois de largar um cliente, se continuar a andar aí à caça nas ruas acaba por apanhar logo outro eliente...

2008-04-10

taxi inteligente

- eu cada vez estou mais encantado com este carro. olhe bem para este limpa pára-brisas!
- ?
- então ele percebe quando começa a chover mais e passa a andar mais depressa. veja lá agora...
- pois é, parece fantástico.
- é um carro com uma tecnologia espectacular. eu só o guio há uns dias e ainda o ando a descobrir. ele sabe, por exemplo, que a pessoa que está sentada aqui à frente não pôs o cinto e começa a apitar mal eu arranco.
- se calhar é um carro inteligente - como aqueles edifícios sabe os
- veja agora, veja agora a brasa do limpa pára-brisas!
- !
- e agora se eu o desligar, ou assim, olhe... se eu o puser no mínimo, vai ver. viu? ele já percebeu que está a chover muito e começou a andar mais depressa.

no dia do tornado

na minha experiência de passageira, o tópico mais frequente para início de conversa com o motorista, é o tempo que faz e que, na nossa opinião, poucas vezes é o que devia fazer.
- já viu isto (queria eu dizer chuvadas e ventanias) depois dos últimos dias de verão?
- é isto que faz mal à gente. então para as tendinites é terrível. eu, que já apanhei várias tendinites, uma delas demorou não sei quantos anos a passar, sinto logo. tudo começa com um sinalzinho no peito. eu noto logo na respiração...
- o quê a tendinite?
- não, a mudança de tempo

gonçalos e leonores


- os gonçalos são terríveis, mesmo terríveis...

- é o nome do seu neto?

- é. e as leonores? isso então nem se fala...

não há direito

- então há lá direito que uma pessoa com 50 táxis pague o mesmo imposto que uma pessoa que só tem um?
- então se a pessoa fizer de lucro, essa dos 50 táxis, sei lá, 50 mil contos e outra, que só tem um, 500, pagam ambas o mesmo?
- ai pagam pagam.

leão, políticos e mendigos

- estranho, tão pouco trânsito a esta hora
- isso é aqui... na avenida da liberdade está tudo parado. e a avenida da república também está cheia. a senhora tem sorte... olhe, até os sinais estão abertos... há-de ser do sporting, não?

do mundo do futebol, onde vivia este sr. motorista, que seria sempre um "leão"(mesmo que eles passassem para a terceira divisão"), a conversa deslizou naturalmente para o da política, mundo no qual este leão nunca tinha posto o pé (nem alguma vez havia de pôr) por considerar a política a pior "coisa que tinha sido inventada nos últimos tempos".

- não sei se a política será assim tão má... agora uma coisa recente é que ela não é. .
- mas dantes não havia políticos nem tínhamos partidos.
- tínhamos um...
- mas esse não era partido, era inteiro. e não havia políticos - por isso andávamos bem governados. os políticos é que é o pior que há no mundo. e são todos iguais.
- também não sei se serão assim todos iguais...
- então não são?! já viu algum que tivesse saído do governo para vir para a rua
mendigar? algum que tivesse sido político d que depois viesse cá para fora pedir esmola?
- não, de facto nunca vi.

2008-02-24

leitura

um livro a ler.
a começar
por mim -
que ainda só
tive hipótese
de o folhear
numa livraria

este
livro
tem
um
blog
que
fica
aqui

2008-02-20

comodismo individual

e no entanto assunto não falta: do motorista astrólogo que descobre os signos dos passageiros ouvindo as conversas que eles, alheados da sua presença, descontraidamente mantêm entre si; do motorista teimoso com o qual perdi uma aposta a respeito do melhor (maior rapidez, menor preço) percurso já não sei para onde; e pelo motorista distraído que por se enganar no caminho me deixou onde eu queria ficar e não para onde queria ir; até ao enigmático comentário, "a senhora sabe como é que costumo chamar a isto? é comodismo individual", ouvido numa deserta madrugada da av. da liberdade, ao mais plácido dos motoristas (corpo pesado, voz vagarosa, condução contida), ao encontrar, num sinal vermelho, um carro parado a meio da faixa (o que lhe dificultou o acesso à linha da frente).

viagem de táxi com magritte

eu é que não tenho merecido os taxistas que me vão cabendo em sorte. ora entro com os olhos cheios das cores e formas do nikias, sobretudo da série 'quartos imaginários', em torno da qual o jorge silva melo fez o filme que acabo de ver estarrecida. ora saio com os olhos vazios seja do que for excepto dos farrapos cinzentas que neles flutuam na horizontal ou dos fios pretos que por eles deslizam na vertical.

para a rva (da rva)

outros passageiros "vêem" os taxistas que os conduzem. outros passageiros habitam o espaço e o tempo (isto é, o universo) da viagem comum. outros passageiros merecem os seus taxistas.

esta foto foi tirada daqui onde foi publicada e dedicada a uma MT!

2008-02-04

olhe diga-me uma coisa, os seus bolos são frescos?

mal tinha acabado de perguntar ao motorista se tinha mesmo instalada no taxi uma câmara de filmar, já realizava a estupidez da pergunta:
- que ideia a minha. não me conhecendo de parte nehuma, o que é que o sr. havia de responder? não, claro que é só a fingir, pode roubar-me à vontade que nada fica gravado! desculpe lá a minha estupidez...
- não faz mal. também olhe que filmar ou não filmar um assalto não interessa nada pois não vale cono prova tribunal.
- ora essa!?
- mas é como eu lhe digo. eu aqui há tempos estava na praia a dormir e uma mulher roubou-me a carteira
- mas se estava a dormir como é que viu que era uma mulher?
- espere lá que isso é que é o resto da história...
com o cartão do banco foi à fnac e de uma vez fez compras n valor de 900 euros e noutra de 600
- era uma ladra muito dada à leitura!
- qual leitura, na fnac não se compram só livros. ela conprou foi telemóveis para depois vender. uma mulher com uma filha pequena pela mão! uma desgraçada que vive num bairro cheio de problemas.
- mas como é que o senhor sabe isso tudo?
- oh minha senhora então porque ficou tudo gravado nas câmaras. só que depois, no julgamento, não serviu para nada, só se se for apanhado em flagrante delito. as gravações, dizem eles que não servem de prova. eu ainda cheguei a ir a casa dela mas a miúda disse que a mãe já lá não vivia. também... olhe era uma desgraça.
- o quê tinha medo de perder a cabeça e de lhe dar uma surra?
- não, a desgraça não era minha. ela é que era uma desgraçada. estivesse em casa ou fosse condenada tanto fazia, onde é que ela ira arranjar dinheiro para pagar fosse o que fosse?
- talvez com o lucro da revenda dos telemóveis...
- isso já ela tinha queimado tudo em droga! neste país não há nada a fazer...
- sempre vai havendo, então aqui pelo menos dentro do táxi,
mesmo que o senhor esteja ferrado a dormir, nenhuma "passageira" o pode assaltar sem ficar gravada "em flagrante delito".
- aqui não entram elas. mal vêem o anúncio, no vidro, de que está sob vigilância, já não entram no carro.
- olhe eu só vi já cá dentro... mas há muitos táxis com isto?
- poucos porque sai muito caro, é o gps e mais não sei o quê e mais o serviço à optimus que se faz pagar bem
- desculpe lá deixa-me tirar uma fotografia? é que um tenho um 'bloguezinho' sobre as minhas viagens de táxi e gostava de lá registar esta novidade.
- com certeza que pode. tem é de me escrever o nome e a morada do blog.
escrevi e agradeci o interesse. foi a primeira vez. era um homem novo, educado, simpático e, pareceu-me, particularmente cordato.

2007-10-16

reeducação de primeiros-ministros

- eles estão sempre a dizer que a fazer asneiras é que se aprende mas depois não aplicam a máxima uns aos outros...
- o que é que quer dizer com isso?
- então o santana lopes não fez tantas asneiras enquanto lá esteve?
- lá isso é verdade não fez mesmo mais nada.
- e não foi corrido por essa razão? então deve ser o que mais aprendeu até agora. ele é que devia dar um bom primeiro-ministro, com tudo o que aprendeu...
- lá lógico, pelo menos do ponto de vista formal, o seu raciocínio parece ser. mas sound duvido um pouco.

tentativa de homicício

- a senhora parecia que me quer matar...
- oh valha-me deus que estupidez a minha, o senhor desculpe. peço-lhe mesmo desculpa. é que não vi que trazia o guarda-chuva espetado para a frente...
- para a frente e para mim.
- mas que horror. é que eu nem sei como lhe hei-de pedir desculpa. mas magoou-se no olho? e os óculos veja lá se acertei e estraguei alguma coisa.
- foi por pouco...
- é que eu não costumo...
- bater nos motoristas de táxi?
- não, entrar assim num automóvel com o chapéu de chuva empunhado na direcção do seu condutor.

foto retirada daqui

2007-10-11

não sei se faz sol se chove

- sabe, então não sabe. há tantas palavras iguais: porta, bom-dia, ...
- ah sei uma - 'rabaxi' sabe?
- sei claro. em castelhano também não há essa palavra. só em catalão.
- e depois também sei o resto de uma cantiguinha - também ensinada pela senhora de que lhe falei - que acaba com "no se si fa sol si plo".

o preço das auto-estradas

- mas como é que foi capaz de trocar espanha por portugal, sobretudo vindo da catalunha?
- sabe é que há 18 anos, quando eu casei e resolvemos ficar aqui a situação era muito parecida...
- sim mas entretanto as coisas mudaram e de que maneira!
- eu não digo mal de portugal...
- mas pode dizer.
- não digo. nem tenho razão para dizer. os portugueses é que estão sempre a dizer mal de portugal. eu estou bem cá. fiz a minha vida, ganhei dinheiro, é claro que me saiu do corpo mas tenho uma boa vida.
- e agora com as auto-estradas vai muitas vezes a barcelona?
- vou. e é divertido porque gasto mais dinheiro para ir de lisboa a badajoz do que de badajoz a barcelona...

2007-09-22

ricos mas grossos

- e isto não é nada... havia de ver isto de madrugada, quando eles começam a ficar todos bêbados.
- não sei, de facto nunca vi de madrugada mas agora mesmo, no táxi do seu colega, não era só não se poder entrar. é que eles estavam sentados no em cima, à frente, atrás. o motorista, lá dentro, parecia estar sequestrado no meio desta turba ululante de miúdos.
- então eles saem cá fora e põem os copos e as garrafas no tejadilho...como se não estivesse ninguém dentro do carro nem nós não estivessemos a trabalhar...
- mas e nunca nenhum dos senhores saiu do carro para dar um tabefe a um desses meninos?
- houve uma vez um colega que arrancou com o carro e partiu-se o que estava lá em cima. quando ele saíu para fora houve pancada e tudo. um deles até era o filho daquele advogado X muito conhecido. agora está tudo em tribunal. o problema é eles embebedarem-se...
- não sei, se calhar o problema está mais na má-criação do que na bebedeira.
- lá isso é verdade. assim como há bêbados mal-educados também os há bem-educados... mas olhe não são estes meninos das famílias ricas e finas!

2007-09-06

taxi e psicanálise

"Quand je prends le taxi, soit le chauffeur parle beaucoup, soit c’est moi qui l’abreuve de paroles, soit c’est le silence. Le taxi peut devenir, le temps d’un trajet, l’occasion de s’offrir une «petite psychanalyse» (ênfase da passageira). esta descrição da viagem de táxi, com a qual estou inteiramente de acordo, é do realizador de "trés bien merci", um filme no qual uma das personagens principais (Béatrice), sendo motorista de taxi tem o trabalho ideal para tomar o pulso a uma cidade e à sociedade em geral

2007-09-05

taxi festival 

festival 
internacional 
do taxi
 

decorre 
em  lisboa
durante  todo  o
mês  de  setembro

tudo no site do festival 

taxis e taxistas no cinema

"Meio de transporte urbano por excelencia, o taxi ocupa um lugar de destaque no cinema de qualquer pais. Local de passagem, ou de transicao de um espaco dramatico para outro, esta, muitas vezes, fortemente associado a propria intriga dramatica. Com mais frequencia como meio de perseguicao, gerando, inclusive, um cliche bastante parodiado (o taxi que segue outro taxi, perante o entusiasmo do motorista, que se ve transformado em personagem da intriga, sem esquecer o taxi que surge “milagrosamente” da esquina a um assobio do heroi!). Mas pode ser, inclusive, o proprio campo do drama, de crimes misteriosos (O TAXI 9297, de Reinaldo Ferreira) ou de absurdos e sangrentos actos de violencia (DINA E DJANGO, de Solveig Nordlund, e o tragico episodio do DEKALOG de Krzystof Kieslowski a volta do mandamento “Nao Mataras”, que reflectem uma dramatica realidade que encontramos com frequencia nas paginas dos jornais). Em colaboracao com o Festival Internacional do Taxi, organizado pelo Institut pour la Ville en Mouvement, e que decorre em Lisboa neste mes de Setembro, a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema organiza um Ciclo que tem este meio de transporte como “actor principal”, reflexo da “cidade em movimento”, com uma serie de filmes onde o taxi, ou quem nele trabalha, tem uma forte funcao na narrativa, surgindo ora como um autentico microcosmo social, com o permanente desfile de passageiros, de que o exemplo mais sugestivo e o filme de abertura, o classico de Martin Scorsese, TAXI DRIVER (que encontra um reflexo documental no trabalho da holandesa Heddy Holigman, METAAL EN MELANCHOLIE), ou como “palco” de comedia em duas divertidas comedias sentimentais, THEY MET IN A TAXI e PECCATO CHE SIA UNA CANAGLIA. O Ciclo continuara no mes de Outubro. Mais taxis. O titulo da retrospectiva e extraido de uma replica celebre de Stan Laurel (“O Estica”) a Oliver Hardy (“O Bucha”). Este, pressionadissimo e em apuros, pede ao Estica, que nada percebe do que se esta a passar: “Chama-me um Taxi”. Imperturbavel, o Estica vira-se para ele e responde: “Tu es um Taxi”." (texto retirado da programação da cinemateca poruguesa)

2007-08-27

primeiro-ministro


P. desculpe?
T. estava a dizer que os beijinhos é só quando precisavam. depois só nos
desprezam. a mim não, porque eu não lhe bato...

noventa e nove por cento

T. lá estão eles todos à espera...
P. mas é de facto aqui que vive o primeiro-ministro?
T. então não é?! não sei é para que é que ele precisa de tantos guarda-costas.
P. não sei, é de regra...
R. oh minha senhora neste país ninguém faz mal a ninguém. até parece que quanto mais nos batem mais a gente se encolhe.
P. talvez haja alguma razão no que o senhor está a dizer...
T. noventa e nove por cento.

2007-08-20

sem com versa

em blog alheio ao mundo dos taxicabs, a passageira encontrou este post ao qual acrescentou este comentário
se calhar o tipo tinha visto, no último tarantino, o gozo frenético mas punitivo das heroínas (o bem) a baterem na traseira do carro do vilão (o mal). ou então limitou-se a verbalizar fantasias de todos (?) os condutores de automóveis, coisas que, como se sabem, facilmente se deixam usar como instrumentos fálicos de agressão. o ps, se pensar na profissão lixada (para evitar o uso da palavra mais apropriada neste caso) do 'seu' motorista de taxi e a comparar com o salário e outras compensações (materiais ou intelectuais) que ele recebe por ela, talvez desculpe, ao edil que nele (tão bem) detectou, a violência da política municipal.

2007-08-13

sem título

do paradise driver
It was a night of action, adventure and excitement. For everyone, except me.
...
Later in the evening I picked up a nice family out of El Lay from Safeway back to Wailea. They expressed an interest in living on Mau'i when they reached their sunset years. I told them that it is not as idyllic as it seems from a tourist POV. On any given day 100 people move here from the mainland. One year later maybe 1 of those is still on Mau'i. They can't adapt to the culture shock. We are the richest "third world" nation and the operative phrase is "THIRD WORLD". The way things run here is like nowhere else in America. I've harped on this before, as my regular readers are aware. Mau'i is not Lodi nor Springfield and is definitely not El Lay, "Shy Town" or NYC. Anyone thinking about living here should probably take an extended leave-of-absence before selling the ol' family estate. Come and rent a place for a year before casting your lot. This way you have something to fall back on when everything goes to hell-in-a-handbasket.
...
Well, I made it through the week. I sure hope this Quasimodo hunchbacked stance I've developed starts fading over my days off.
I know, I know. Life's a bitch and then you die.

"fun times"

do newyorkhack
I had a good night.
...
All night long, each good ride led to the next.
...
As I passed Columbia on my way back downtown, I got flagged by a very pregnant, thirty-something lady dressed in hospital scrubs and a stethoscope. She had a phone to her ear and, when she got in, said, "59th and Amsterdam." But then a second later, she said, "Actually 59th and 3rd." And then another second later, "Let's make that 59th and Lex."
Finally she hung up the phone and said, "I'm sorry. My husband was barking orders at me on the phone."
We didn't talk for the rest of the ride.

sem título

do fogareiro
Troquei uma «corrida» por um livro de poesia. Foi assim: o Nuno Silva, um bom amigo e agora também editor (Sombra do Amor), telefonou-me para transportar o último livro do jovem poeta M. Tiago Paixão («l´étranger the outkast ou o quarto sem ar»). No final da «corrida» fiz-lhe uma proposta: ele não pagava o serviço do táxi e, em contrapartida, eu ficava com um livro, autografado e tudo pelo autor... Já li e tirei uma conclusão: fiquei a ganhar!

"Vuelta al trabajo : Terremoto"

do taxista de madrid
Vuelo a trabajar después de unos días de vacaciones, y Madrid está...vacío. No hay nadie en este agosto a pie de puente y de primera quincena.
Los pocos clientes van a aeropuertos ó estaciones. Uno de ellos me dice:
-- Me voy de vacaciones. Lo siento por los que vuelve.---
Y me tengo que callar las palabras.
¡Qué duro es volver cuando media ciudad esta de vacaciones ¡
Será por eso que a las 9.47h tembló la tierra en Madrid y media España. Creo que no ¡ Pero no estoy seguro que mi cabreo interior no se trasmitiera a estrastosfera, rebotara, cayera en Ciudad Real, y sus vibraciones llegaran hasta Madrid.
Lo que me faltaba : terremoto.
Claro que no lo he notado ¡¡

"inspiração para palestra"

do taxitramas
O passageiro embarcou no táxi com uma expressão muito séria. Informou o local onde desejava ir e não falou mais nada. Parecia preocupado. Achei melhor não puxar assunto.
Sem dizer nada, ele estendeu o braço e pegou um dos exemplares do meu livro, que sempre deixo em exposição sobre o painel do carro. Como o subtítulo diz tudo - "Diário de um taxista" - , resolvi não falar nada.
O homem escolheu uma página qualquer e pôs-se a ler. Com o canto do olho, fiquei controlando as reações dele. Meu passageiro parecia estar preso ao texto. Aos poucos, suas feições foram descontraindo. Mais tarde, já com um sorriso nos lábios, mas ainda sem dizer uma só palavra, ele recolocou o livro no painel.
Curioso, não resisti e perguntei o que ele tinha achado. Ele comentou que o livro parecia bom. Disse que, apesar de nunca ter ouvido falar dele, o tal Mauro Castro parecia competente. Por fim, perguntou se eu conhecia o autor do livro. Respondi que, de certa forma, sim.
A essa altura, paramos na esquina da Garibaldi com a Independência. Fiz um sinal de luz para o Wagner, um jornaleiro amigo meu que trabalha naquela esquina. Ele logo me alcançou o Diário Gaúcho. Disse que tinha acabado de ler minha coluna e, como sempre, achava que eu estava mentindo. Agradeci o elogio.
Abri o jornal e mostrei ao passageiro a coluna que trazia a minha foto. Só então ele se deu conta que o taxista ao seu lado era o autor da coluna no jornal e, por conseqüência, do livro. Ficou espantado!
O resto da corrida foi pura descontração. Ele revelou que estava indo para um congresso sobre educação, no qual seria palestrante. Disse que estava angustiado pois, até embarcar no meu táxi, não tinha nada realmente inspirador para falar à platéia.

2007-08-09

o taxista e a taxista

para lá, a passageira teve a agradável surpresa de se encontrar sentada atrás de uma doce cabeça feminina, de cabelo muito claro, à qual perguntou se era estrangeira. ao que a taxista respondeu que não, que era portuguesa e que a claridade do cabelo provinha da idade e não da nacionalidade. para cá, deparou com umas terríveis trombas masculinas, e, depois de entrar, contra-feita, num carro parado a contra-gosto, lá teve de lidar, muito contra-riada, com um taxista sempre muito contra-produtivo.
- a avó achou que este senhor era bem educado? perguntou a minha m. à saída.
- uma verdadeira besta, respondi desabrida.
- ele assim não pode dar bons exemplos aos netos, comentou, sempre filosófica, a minha m.
como contra-ponto contei-lhe a história da senhora taxista referindo que, em contra-partida, ela era a boa-educação em pessoa.


2007-07-26

posto de observaçao

descoberto novo blog de taxista com o sugestivo nome de cabs are for kissing. a conduzi-lo alguém que há muitos anos observa e pensa (pelos vistos até fotografa) pessoas que se vêm cruzando com ele, ao longo do tempo, em manhattan. na foto, um desses 'outros' que, por se destacarem da multidão, ele reconhece e pelos quais se interessa. outros cujas vidas ele só pode fantasiar, incapaz, por delicadeza, de os abordar e perguntar quem são, o que pensam, fazem e sentem.

2007-07-25

pelo sim pelo não

os motoristas de táxi guiando carros com o número 666 não perdem nada em ler este post, escrito por um seu colega londrino, a respeito dos perigos incorridos pelos taxistas condutores de viaturas às quais a sorte (ou o azar...) atribuiu o que se diz ser o número do demónio. na foto, o presidente do que parece ser uma antral local (são francisco, wherelse?), vestido a rigor, durante o julgamento que recusou a petição de michael byrne para não usar o número satânico, já recusado no ano passado por outro motorista.

2007-07-22

viagens


no taxi de nuit
aparece uma bela história.

2007-07-17

book update


taxistas e passageiros get ready,
é já em agosto que sai o livro da
melissa.
e é uma edição encadernada!

2007-07-11

carteira


T. dantes tinha-se a carteira profissional pelos anos agora é pelo euros...
P. e quem é que vos dá a carteira?
T. dantes era a direcção geral de viação, agora é antral. mas não lhes iteressa saber se a pessoa tem cadastro, se é equilibrada aou desiquilibrada, nada. desde que pague e vá lá aquela meia dúzia de vezes exigida para fazer a dita formação, já está com a carteira profissional nas mãos.

2007-07-03

o zé e o manel

P. desculpe lá se preferia ir por campolide. mas sabe que eu sou muito como os burros, vou sempre pelo mesmo caminho...
T. a senhora agora lembrou-me uma história que o meu pai contava. antes de ele vir para lisboa, onde era estivador, tinha sido pastor na serra da estrela. e na aldeia dele havia um ti-zé que tinha um burro que era o manel. ele gostava muito da bebida e nos dias em que estava mais pingado adormecia na carroça e era o burro que o levava para casa. uma vez ou outra o gnr via a carroça um bocadinho fora de mão ou não sei quê e mandavam parar. o ti zé acordava meio estremunhada e acusava o burro. ele não tinha culpa nenhuma, vinha a dormir, o manel é que vinha a conduzir por isso eles que multassem o burro. um dia, já estava chatiado de pagar multas, resolveu chatiar a gnr que ele sabia que estava a fazer uma operação stop. meteu o burro em cima da carroça e pôs-se ele a puxar por ela estrada fora.

silêncio

passageira pouco à altura dos motoristas de táxi que a levam para e por onde ela lhes pede. envolvida com as suas próprias ideias, falta-lhe espaço interior para as ideias alheias.

2007-06-26

donos e empregados

T. a senhora há-de reparar que todos os velhotes, sabe dos que eu estou a falar, os mesmo velhotes, 99,9% deles, vão sempre pelos trajectos com mais sinais e mais trânsito...
P. mas porquê os velhotes?
T. porque são os donos dos táxis. aos donos é que interessa o pára-arranca. para os empregados, que ganham à comissão, o que é bom é andar. por exemplo a mim agora o que me interessa é despachar a senhora o mais depressa possível para apanhar logo outro passageiro. olhe ali estava um...
P. oh diabo, que maçada. eu até podia ter saído ali, é tão perto da minha casa...
T. oh minha senhora, por amor de deus. a senhora sai exactamente onde quiser e quando quiser. quero lá saber do serviço...
...
P. então boa-noite e espero que agora, despachada esta passageira, apanhe logo outra!

tv on board

quando entrei julguei que o taxista tinha o rádio ligado numa estação brasileira. passado algum tempo, percebi que não era música o que o ele tentava ouvir, todo inclinado para o lado direito, mas uma conversa entre várias pessoas. em certo momento, algumas gargalhadas do taxista, despertaram a minha curiosidade. pus-me então à escuta, concluí que se tratava de uma espécie de teatro radiofónico e tirei a minha atenção daquilo em que o taxista punha a sua. chegada ao destino, inclino-me para a frente em busca do taxímetro e no lugar onde o imaginava vejo uma televisão a cores transmitindo uma telenovela brasileira. estava explicada a 'ausência' do taxista bem como a estranha postura do seu corpo, meio inclinado para a direita, os olhos movendo-se permanentemente da estrada para o 'rádio'. desta viagem fiquei com uma dúvida, não sei se existencial mas decerto vital (para a própria existência de taxista e passageira alike): se é legal ver televisão enquanto se conduz, porque raio há-de ser ilegal falar ao telemóvel?

2007-06-22

zé costa


T. é o o sá fernandes. ele achava que escondido tinha mais possibilidades de ganhar...
P. escondido como?
T. então, sem dar a cara... mas quem vai ganhar isto é o zé costa!

2007-06-20

praça

T.1. eu já transportei a senhora...
P. como está? eu também me lembro muito bem da sua cara.
T.1. não me lembro é para onde... mas já transportei.
T.2. para a alvares cabral!
T.3 para onde é que vamos?
P. então, é para onde disse aquele seu colega mais novo. é bom ser assim bem recebida.