a começar
por mim -
que ainda só
tive hipótese
de o folhear
numa livraria
este
livro
tem
um
blog
que
fica
aqui
conversas escolhidas
e no entanto assunto não falta: do motorista astrólogo que descobre os signos dos passageiros ouvindo as conversas que eles, alheados da sua presença, descontraidamente mantêm entre si; do motorista teimoso com o qual perdi uma aposta a respeito do melhor (maior rapidez, menor preço) percurso já não sei para onde; e pelo motorista distraído que por se enganar no caminho me deixou onde eu queria ficar e não para onde queria ir; até ao enigmático comentário, "a senhora sabe como é que costumo chamar a isto? é comodismo individual", ouvido numa deserta madrugada da av. da liberdade, ao mais plácido dos motoristas (corpo pesado, voz vagarosa, condução contida), ao encontrar, num sinal vermelho, um carro parado a meio da faixa (o que lhe dificultou o acesso à linha da frente).
eu é que não tenho merecido os taxistas que me vão cabendo em sorte. ora entro com os olhos cheios das cores e formas do nikias, sobretudo da série 'quartos imaginários', em torno da qual o jorge silva melo fez o filme que acabo de ver estarrecida. ora saio com os olhos vazios seja do que for excepto dos farrapos cinzentas que neles flutuam na horizontal ou dos fios pretos que por eles deslizam na vertical.
outros passageiros "vêem" os taxistas que os conduzem. outros passageiros habitam o espaço e o tempo (isto é, o universo) da viagem comum. outros passageiros merecem os seus taxistas.