- é para a rua da arrábida se faz favor.
- isso fica...
- é uma rua estreitinha que desce da silva carvalho para o rato.
- oh eu queria era ir para o outro lado, para perto do aeroporto...
- então mas se quiser eu saio e tomo outro táxi... estão aqui tantos na praça.
- não, nós não podemos recusar clientes.
- está bem não é o senhor que me recusa sou eu que vou noutro.
mas ele não me deixou sair e a viagem começou.
distraída pela incessante conversa sobre o azar que só ele, entre os colegas, tinha sempre pousada em cima da cabeça - se queria ir para leste aparecia um cliente que ia ir para oeste, só lhe apareciam serviços pequenos, ou para sítios onde não havia ninguém pelo que tinha de voltar vazio ("que faziam o cabrazão do patrão, que levava o dia a dormir sem fazer nada, a acusá-lo de fazer quilómetros a mais), nunca lhe aparecia ninguém com mala para o aeroporto ("os 1,60 da mala são para mim e não para o patrão") - não reparei que na praça de espanha tínhamos virado à direita, e não à esquerda, como é costume, nem que, na auto-estrada, não tínhamos virado à direita e descido para campolide, outro itenerário possível.
ao dar por mim a rolar em grande velocidade na av. de ceuta, interrompi-o:
- mas para onde é que o sr. está a ir?
- deixe estar que vai bem, subimos ali onde era o casal ventoso e estamos lá num instante. mesmo quando venho buscar o meu sobrinho, que vive na rua maria pia, venho sempre por aqui - não tem transito nem sinais e é sempre a direito. não está a ver o caminho que eu digo?
- não, não estou.
quando depois de uma subida íngreme e cheia de curvas aportámos finalmente à rua maria pia, o taxímetro marcava 6,70 e ainda faltava muito caminho para andar.
- o sr. não queria vir para este lado e resolveu compensar-se dando esta volta enorme...
- a senhora não pense isso de mim, eu juro pela saúde dos meus filhos.
- não penso nada, só sei é que faço este caminho duas vezes por semana, a esta hora, e nunca pago mais de 5 euros e muito pouco... tinha feito melhor em ter-me deixado trocar de táxi...
primeiro foram os protestos indignados mas moderados - como é que eu havia de pensar tal coisa dele. depois as desculpas esfarrapadas mas educadas - tinha-se enganado como qualquer um se pode enganar. finalmente, e já perante os sinais proibidos na saraiva de carvalho, que nos impediam de virar para a ferreira borges e depois, na ferreira, nos impediam de virar à direira para a rua da arrábida, desligou o taxímetro.
a electricidade no interior do veículo era relativamente elevada quando entrámos na joão V, e talvez por isso ele esqueceu-se de virar à direita apesar de me vir a repetir a necessidade de "apanharmos já a rua dos alunos de apolo". travagem brusca, viragem quase contra um outro carro e em fundo "mas deixe estar que eu levo-a mesmo à porta".
à desfilada pela rua silva carvalho adiante voltou a falhar a rua da arrábida, à esquerda.
- era ali, era ali. mas olhe eu fico mesmo aqui.
- não, não eu levo a senhora mesmo à porta.
em marcha atrás chegámos mesmo à porta. a porta estava fechada. bati durante bastante tempo e ninguém abriu. afinal o azar era generalizado, o motorista não estava sozinho no mundo.
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