2008-06-05

para chamar a polícia

motorista novo e despachado, fazia gosto em mostrar-se viajado e informado por oposição a nós portugueses que, por não sairmos daqui, pouca ou nenhuma informação tínhamos sobre o mundo. a área do conhecimento na qual, segundo ele, mais atrasados nos encontramos, é a da segurança. espanta-o particularmente o facto de não termos informação sobre algumas questões básicas.
- por exemplo, "você" sabe qual é o número da polícia?
- o 112?
- não isso é a emergência. se "você" estiver aflita, durante um assalto e quiser ligar para a polícia basta escrever polícia no telemóvel e fica logo em contacto com eles.
- a sério?
- claro, as pessoas é que não sabem.
na ânsia de me transmitir mais informação útil, passou por cima da minha pergunta "mas onde e como é que o senhor aprendeu tal coisa?", para voltar a testar a minha ignorância
- e "você" sabe o que fazer se for apanhada numa máquina multibanco ou se for forçada a ir a uma para levantar dinheiro para o ladrão?
- não faço ideia...
- vê?! e é tão fácil. só que as pessoas não sabem. basta marcar o seu código ao contrário, de trás para a frente. a máquina alerta logo a polícia.
- verdade?
mal me apanhei cá fora, e ainda espantada pelo seu conhecimento, sobretudo se comparado com a minha ignorância, fiz ouvidos moucos aos prudentes e insistentes conselhos filiais para não maçar a polícia e escrevi p-o-l-i-c-i-a no telemóvel, preparada para pedir logo desculpa ao sr. guarda dizendo que me tinha enganado. infelizmente começou por dar sinal de ocupado e depois desligou-se.
convencida de que não tinha conseguido falar com a polícia só porque não tinha posto o acento no i (o meu tm só tem teclaro inglês) dirigi-me entusiasmada para o multibanco da loja de conveniência em frente. aí, contudo, a minha filha impediu-me fisicamente de fazer a segunda experiência da noite com medo que o polícia, ao vir ter connosco, deixasse o colega sozinho na esquadra ou não fosse socorrer uma pessoa em perigo real por força da minha vontade de experimentação.
eram duas da manhã quando cheguei a casa e a primeira coisa que fiz foi ligar para o banco. depois de uma breve introdução fui direita ao assunto. mas, para grande tristeza minha, a resposta foi peremptória: "não minha senhora, nunca ouvi falar nesse sistema, nem em portugal nem em espanha."

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